Luciana Konradt

A pátria somos nós

Por Luciana Konradt

Jornalista, advogada e escritora


Confesso, incrédula, que jamais imaginei assistir as cenas presenciadas nessa manhã de quarta-feira. Uma minoria tomada de ódio, envolta em bandeiras e inconformada com o resultado das eleições, clamando, aos gritos, pelo retorno da ditadura militar. Carros em alta velocidade, com buzinas frenéticas e intimidatórias, circundando as quadras, em um cortejo furioso contra a democracia e a escolha das urnas.

 
Enquanto ouço os gritos da turba barulhenta, misturado ao canto dos pássaros, volto à xícara de café e aos teclados. Pretendia escrever sobre literatura, mas mudo o tema ao ouvir alguém berrar a palavra “pátria”. Durante os últimos quatro anos, no país, essa palavra ganhou uma conotação assustadora. A pátria não há de estar, como pregado por uns, “acima” de tudo e de todos. Ao contrário, há de ser uma construção positiva e solidária, partilhada entre todos. Um projeto não “acima”, mas em favor dos cidadãos. Afinal, a pátria somos todos nós. Um povo de muitos matizes, com muitas ideias e ideais. Um povo que quer comida, liberdade, educação cultura, bons hospitais, boas escolas e estradas. Quer dançar e cantar; carregar livros e não armas. Como lugar para viver nossos afetos e sonhos, a pátria não merece ser cenário de ódios, onde as pessoas temam discutir política ou expor convicções, sob pena de começarem uma briga. Onde familiares e amigos afastem-se, uns dos outros, contaminados pela infodemia de um discurso retrógrado, espalhado como chaga, pelas redes sociais. De uma narrativa que não constrói, nem serve ao interesse comum.

 
Talvez com certa dose de utopia, espero que, ao ser publicada, essa crônica encontre um país já a caminho da pacificação. E, no futuro, embora seja tarefa árdua, prefiro acreditar na capacidade da coalizão, encabeçada pelo presidente eleito, de restabelecer o país que todos merecemos. Um país capaz de madurar-se. Capaz de respeitar a democracia e suas instituições, as diferenças de opinião e buscar o crescimento coletivo. De construir-se, como determina expressamente a Constituição, em torno de uma “sociedade livre, justa e solidária”, unida para “promover o bem de todos”.

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